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Além da Perfeição: A Jornada da Mãe Suficiente

  • Foto do escritor: Renata Dose
    Renata Dose
  • 27 de jul.
  • 4 min de leitura
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Ser “suficientemente boa”: aliviando a culpa materna na era das comparações


Ser mãe hoje é mergulhar num mar de informações, expectativas e comparações que nos cercam a cada scroll nas redes sociais. Nesse contexto, a teoria de Donald Winnicott sobre a “mãe suficientemente boa” surge como convite à leveza e ao acolhimento, tanto do bebê quanto de si mesma.


O que é ser “suficientemente boa”?


Em meados da década de 1950, o pediatra e psicanalista Donald Winnicott descreveu a mãe ideal não como uma heroína infalível, mas como alguém que atende às necessidades do bebê de maneira adaptativa, ainda que imperfeita. Segundo Winnicott, a mãe começa por um estado de “onipotência”, respondendo prontamente a cada choro, mas, aos poucos, aprende a tolerar pequenos “frustros” que ajudam o bebê a construir a própria identidade e a estabelecer limites no mundo exterior¹.

“A tarefa da mãe não é ser perfeita, mas suficientemente boa para permitir que o bebê se sinta seguro para explorar o ambiente e retornar quando precisar.”

A armadilha da autocrítica e da culpa


Muitas mães traduzem imperfeições inevitáveis em erros irreparáveis. Atrasos no desenvolvimento, choros que não cessam, noites mal dormidas: tudo vira motivo de culpa (“se eu fosse uma mãe melhor, isso não aconteceria”). Mas Winnicott nos lembra que essa sensação de incapacidade faz parte do processo de crescimento,tanto do bebê quanto da mãe².


  • Culpa precoce: nasce quando acreditamos que deveríamos saber todas as respostas “desde o primeiro dia”.

  • Cobrança constante: alimentada pela crença de que existe um “manual definitivo” da maternidade.


Redes sociais: terra de “especialistas” do desenvolvimento


Hoje, é comum encontrar tutoriais em vídeo do tipo: “O bebê de 4 meses já deveria sentar”, “Aos 6 meses, ele precisa engatinhar”. Quando o seu bebê ainda não cruza essa linha imaginária, o pânico se instala.


  1. Comparação instantânea: o feed mostra apenas conquistas, não rezas de 2 h no meio da madrugada.

  2. Pressão externa: perfis dedicados a “ensinar” rotinas e marcos, muitas vezes sem considerar a singularidade de cada família.

  3. Desespero psíquico: mães que duvidam de si mesmas e do próprio instinto, acreditando que estão “falhando” em oferecer aos filhos o que eles “precisam”.


Comparação nas redes sociais: espelhos distorcidos


Nas redes, o feed é um compêndio de “melhores momentos”: o bebê que já senta, a mãe que domina a técnica X, o pai que fotografa o lanche orgânico. Esse ambiente cria um “espelho distorcido” em que as mães se veem refletidas por padrões inalcançáveis. Quando lemos depoimentos de que “fulana já dorme oito horas por noite aos 3 meses” ou “beltrana já fala palavrinhas aos 6 meses”, nosso senso de tempo, ritmo e conquista fica reduzido a um algoritmo de aprovação, curtidas, comentários e validações instantâneas.

O resultado é um movimento interno de inveja e culpa, tão estudado por Donald Winnicott: em vez de acolher as próprias falhas como parte do processo, transformamos cada imperfeição em um “erro de manual”. Essa vigilância constante alimenta uma ansiedade crônica, que pode se estender ao bebê (sentimo-nos responsáveis por acelerar o desenvolvimento) e a nós mesmas (sentimo-nos responsáveis por cada atraso real ou imaginário).


Caminhos para resgatar a serenidade


  1. Reconhecer a singularidade do seu bebê- Cada criança é única no ritmo de desenvolvimento. Frustrações contidas, sem dramaticidade, constroem resiliência emocional tanto nela quanto em você.

  2. Limitar o consumo de redes- Escolha horários curtos para navegar em grupos ou perfis de maternidade e faça pausas intencionais.

  3. Cultivar a autoempatia- Ao menor sinal de autocobrança excessiva, pergunte-se: “E se eu falasse comigo como falo com minha melhor amiga?”

  4. Troca real com outras mães- Grupos presenciais ou pequenos círculos de amigas que dividem as angústias e conquistas sem transformar tudo em pauta de tutorial.

  5. Apoio profissional- Se a autocobrança estiver muito forte, considere reservar um espaço só seu. Como psicanalista, posso te  receber para sessões individuais (presenciais em Porto Alegre ou online), num ambiente acolhedor e sem julgamentos. Juntas, podemos trabalhar a culpa materna, suas expectativas e descobrir caminhos para você se sentir mais leve nesta jornada.


Psicanálise e o valor da individualidade


Em contraponto a essa lógica de prescrições universais, a psicanálise coloca a singularidade no centro do tratamento. Aqui valem menos os marcos “oficiais” do bebê e mais o modo como cada mãe e cada criança se relacionam: suas histórias, fantasias, receios e recursos internos.


  1. Ouvir antes de ensinar: O setting analítico oferece um espaço em que sua fala não é interrompida por “achismos” ou pressões externas. É ouvindo sua narrativa única que se descortinam as fantasias de culpa e expectativas exageradas.

  2. Transferência e espelho verdadeiro: Ao contrário dos espelhos truncados das redes, o analista age como um espelho que devolve um reflexo mais autêntico: acolhendo seu desejo, validando suas angústias e ajudando‑a a encontrar seus próprios ritmos de mãe e filha(o).

  3. Trabalho com o inconsciente: Através da associação livre, sonhos e lapsos, exploramos os vínculos primários e as crenças internalizadas que alimentam a sensação de “não ser suficiente”. Esse método não busca padronizar marcos, mas revelar o modo único pelo qual você constrói sua maternidade.


Conclusão: o alívio do “bom suficiente”


Resgatar o conceito de “mãe suficientemente boa” é permitir-se falhar, aprender e crescer junto com o bebê. É entender que, na imperfeição, há generosidade, a generosidade de estar presente, de escutar seus próprios limites e acolher o bebê em sua singularidade.

Quando a culpa bater à porta, respire fundo e lembre-se do que Winnicott nos ensinou: nem toda necessidade precisa ser saciada imediatamente, e nem toda frustração é um erro. Às vezes, é a faísca que acende a autonomia e o vínculo mais verdadeiro entre mãe e filho.


Pronta para acolher seu próprio processo?


Na psicanálise, cada história encontra caminhos de transformação. Vamos conversar sobre suas angústias, dúvidas e expectativas, sem julgamentos, no conforto do seu espaço, presencialmente em Porto Alegre ou de forma online.


Agende sua sessão e descubra como o encontro com um olhar empático pode ajudá‑la a aliviar a culpa, acolher suas imperfeições e viver a maternidade de forma mais leve.



 
 
 

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